A criatividade entrou em minha vida quando eu era bem garoto. Costumava brincar nas ruas de barro do bairro onde nasci. Quando chovia, as vias ficavam um atoleiro só e os carros que passavam separavam a lama entre o meio e as laterais, construindo duas trilhas. Depois de alguns dias de estiagem, o barro que havia se deslocado com o movimento dos veículos secava, e as pessoas usavam os caminhos deixados pelas marcas dos pneus, fazendo delas sua estrada. Porém, o que eu fazia mesmo era andar sobre a lama dura, pisando firme, usando, às vezes, o calcanhar para desfazer “os torrão”, criando o meu próprio atalho!
As dificuldades na infância em ter brinquedos, principalmente pela questão financeira, mexiam com a imaginação, contribuindo para criar os meus, já que não podia comprá-los. O skate, as mesas para jogo de botão e ping-pong, além dos carros de madeira e lata, e tantos outros, eram feitos no quintal de casa (meu atelier) e me enchiam de orgulho quando prontos. Em muitos desses casos, a novidade não estava na concepção do brinquedo “novo”, “diferente”, mas na utilização de material para concebê-los, pois nem sempre dispunha dos recursos adequados e aí entrava o jogo com as ideias na busca por alternativas.
Só depois, já adulto, ao entrar em contato com o conceito da criatividade, percebi que a atitude em criar o meu próprio trajeto e produzir os brinquedos, impelia-me, intuitivamente, ao ato criativo. As lembranças desses momentos da infância e a consciência da beleza que é a ação criadora têm me conectado com sentimentos e sentidos da minha humanidade, memórias estas que me trouxeram até aqui e me conduzem em minha prática como professor de professores, na e para a criatividade.